Excesso de “clientes” atrapalha atendimento de pacientes e afasta médicos do PA


  

Contratações temporárias, realização de concursos públicos, autorização de contratação de novos médicos, etc. Para tentar resolver o problema da falta de médicos no Pronto Atendimento (PA) de Paranavaí o município já lançou mão dessas e de outras alternativas que custam a surtir efeito. Mas afinal de contas, porque é tão difícil para o município resolver o problema da falta de profissionais médicos no PA?

Para Selma Weber, secretária interina da Saúde, o principal motivo continua sendo a falta de conscientização de parte da população na hora de procurar pelo atendimento médico. “Muitas pessoas que procuram o PA não necessitam de atendimento médico de urgência e emergência e poderiam perfeitamente procurar uma Unidade Básica de Saúde (UBS). De acordo com os médicos, somente 15% a 20% dos atendimentos realizados no PA são casos de urgência e emergência. Esse tipo de comportamento é um dos principais motivos do aumento na fila de espera”, aponta.

“Muitos usuários usam o PA para `cortar fila´ de consultas médicas que deveriam ser agendadas. É claro que, quando se trata de saúde, todo mundo tem pressa. Mas as pessoas esquecem que nem os planos de saúde e nem as clínicas particulares tem tido capacidade de atender os pacientes com tanta agilidade”, avalia o diretor do PA, Randal Fadel Filho.

De acordo com a secretária em exercício, esse tipo de comportamento dos usuários tem afugentado alguns profissionais médicos que prestaram o concurso, mas não tiveram interesse em assumir as vagas. “Tirando os profissionais que não tem perfil para trabalhar no PA, os demais médicos que poderiam assumir a função alegam que o serviço é exaustivo e desgastante, principalmente pelo excesso de pacientes. São aproximadamente 100 pacientes em um plantão de 12 horas, uma média de 8 por hora”, destaca Selma.

“O volume de pacientes é muito grande e os médicos que se dispõem a atender urgência e emergência acabam ficando frustrados com o grande número de usuários que procuram o PA apenas por causa de um atestado. São muitos clientes e poucos pacientes. Hoje o salário nem é mais a principal reclamação. O que esgota mesmo é ver toda aquela demanda que não é verdadeira. Basta prestar atenção nos dias de chuva, jogos da Copa do Mundo e do último capítulo da novela, por exemplo, quando os pacientes desaparecem”, relata uma médica que já deu plantão no PA.

Desde o início de 2009 o município já realizou três concursos públicos para a contratação de médicos para o Sistema Público Municipal de Saúde e muitas vagas ainda continuam em aberto. No início deste mês o prefeito Rogério Lorenzetti autorizou a contratação de mais quatro médicos para o PA. Dos profissionais que haviam sido aprovados no concurso público apenas um está interessado em assumir a posição. Três vagas ainda continuam em aberto. Mesmo assim, um novo concurso deverá ser realizado ainda no primeiro semestre deste ano.

“Já realizamos concursos, dotamos o PA com equipamentos modernos, reformamos o prédio, ampliamos o quadro de servidores e estamos pagando melhor que muitos municípios. Lançamos mão de todas essas alternativas e ainda assim vamos continuar insistindo porque resolver esse problema significa melhorar a qualidade do atendimento da saúde pública no município”, afirma a secretária.

Selma acredita que a solução para o Pronto Atendimento não está apenas na contratação de mais médicos e construção de novos consultórios. “Isso só faria a nossa demanda de pacientes aumentar ainda mais e tornaria o PA uma espécie de `postão de saúde´”.

De acordo com ela, o concurso público é importante para legalizar o quadro de médicos e tentar resolver a questão da escala de trabalho. No início de 2009 o PA contava com quatro médicos concursados. Hoje esse número chega a 12 profissionais. Segundo a secretária interina, a falta de médicos na região é tanta que hoje cerca de 90% dos médicos que prestam serviço para o município também trabalham para outras cidades da região, uma vez que a lei permite até dois vínculos empregatícios no serviço público.

Selma conta que para fechar a escala de médicos no final do ano a Secretaria Municipal de Saúde teve que apelar inclusive para a contratação de médicos de São Paulo e Rio de Janeiro que estavam de passagem pela cidade.

A secretária interina também não acredita que o problema esteja na remuneração. Isso porque, embora ainda esteja longe do valor recebido por consultas particulares, o valor da hora plantão paga hoje pelo município está acima do que é pago pela Santa Casa de Paranavaí, por planos de saúde e por outros municípios da região.

Hoje, um médico plantonista do PA recebe R$ 59,56 a hora/plantão, contra R$ 50,00 na Santa Casa e R$ 55,00 (em média) na Unimed. O médico do município ainda tem direito a benefícios como férias, 13º salário, anuênio, licença prêmio, adicional noturno e insalubridade.

“A melhora no atendimento no PA só vai ser possível a partir do momento que a população entender que aquele é um local destinado para o atendimento de urgências e emergências. Se o município aumentar o número de médicos e consultórios sem que a população seja conscientizada, o que vai acontecer será a migração dos pacientes dos postos para o PA”, completa Selma.

“Somente aumentar o número de médicos não resolverá o problema. Pode dobrar o número de médicos, que vai triplicar o número de pacientes. Acredito na conscientização da população como a saída para esse problema”, finaliza a médica que preferiu não ser identificada.

Fonte: Secretaria de Comunicação Social - Prefeitura do Município de Paranavaí






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