Os filhos e as decisões familiares


  

Para definirmos o momento em que os filhos passam a participar e a interferir nas decisões familiares, precisamos observar o tipo de organização familiar à qual este filho pertence, uma vez que as famílias vêm sofrendo mudanças radicais em sua estrutura organizacional. O modelo patriarcal, onde o poder do homem era soberano, cedeu lugar a um modelo mais democrático, e a mulher, com sua independência funcional e financeira conquistou maior autonomia. Sua autoridade passou a ser considerada importante nas decisões familiares.

Essas mudanças influenciaram o modelo educativo adotado pelas famílias na condução do desenvolvimento de seus filhos.

A flexibilização das regras, a introdução do diálogo entre pais e filhos, a mudança nos métodos repressivos têm permitido uma participação mais ativa dos filhos na dinâmica familiar.

Outros fatores não menos importantes têm influenciado as mudanças estruturais das famílias, entre eles: a separação e o divórcio dos casais, a diminuição progressiva de casamentos tradicionais, o aumento de famílias monoparentais - compostas por apenas um genitor, na maioria das vezes a mãe e seus filhos, a necessidade crescente da mulher exercer atividade profissional e contribuir com o orçamento doméstico.

Em decorrência destes aspectos, além das interferências do meio externo, os filhos são estimulados a manifestar suas necessidades, temores, desejos, apreensões... mais intensamente.

Como toda mudança de paradigma exige um tempo de maturação para que resulte num novo modelo funcional, vemos que as famílias atravessam um momento transitório difícil, para encontrar o equilíbrio entre o autoritarismo do modelo patriarcal e o modelo democrático, sem confundir com liberalismo.

Então, ao nos perguntarmos quando os filhos começam a participar das decisões familiares, vemos que em muitas famílias, crianças muito pequenas influenciam as decisões dos pais "impondo seus desejos", pois os pais temem frustrá-las ou reprimi-las, por considerarem - equivocadamente - a autoridade como prejudicial para o desenvolvimento dos filhos. Outras famílias, movidas por dificuldades herdadas do modelo em que foram educadas e sem possibilidades de operar reformulações no processo educativo que aprenderam, mantêm os filhos "de fora", não favorecendo o sentimento de pertencimento, tão necessário para o desenvolvimento integral do ser humano.

A participação dos filhos nas decisões familiares deve ser um processo gradativo, que respeite a maturidade e as necessidades de desenvolvimento dos filhos. Na adolescência, os filhos já devem ter alcançado um grau de maturidade intelectual, emocional, afetivo e moral, que lhes permita interagir com os demais, levando em conta as necessidades coletivas.

Assim, a adolescência é o momento mais propício para que os filhos comecem a participar das decisões familiares, emitindo suas opiniões, suas ideias e argumentos, aprendendo com estas transações a negociar.

Os pais devem estimular os filhos a manifestar suas opiniões, pois a comunicação favorece tanto aos pais, que podem assim contribuir para o alcance da autonomia e autoconfiança dos filhos, quanto aos filhos, à medida que estes alcançam a maturidade e o equilíbrio intelectual e socioafetivo.

Vale ressaltar que estimular os filhos a manifestar opiniões não significa aceitar "imposições dos filhos", mas sim estimular a reflexão conjunta, na busca de decisões mais favoráveis para todas as pessoas envolvidas.

Em algumas famílias este processo pode ser vivido com sofrimento, pois os pais podem ter dificuldades em dialogar com os filhos, temendo perder o poder. Com isto, os pais se fecham e os filhos podem ter a sensação de desamparo ou menos valia. Em condições opostas a esta, os filhos podem ser chamados a opinar sobre temas ou assuntos para os quais não estão preparados intelectualmente e emocionalmente. Ambas as situações são prejudiciais ao desenvolvimento dos filhos e contribuem para a disfuncionalidade da dinâmica familiar.

Os pais não devem abandonar sua tarefa de orientadores na condução do desenvolvimento da autonomia dos filhos para a vida adulta, nem transferir aos filhos um papel decisório que não lhes cabe, na infância e adolescência.

Educar é uma arte singular que exige dos seres humanos perseverança, bom senso, doação e muito amor.

Psicóloga Mariza Bregola de Carvalho
CRP 08/1230
Coordenação do INTERCEF – Instituto de Terapia e Centro de Estudos da Família

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